Folha –
Mais profissionalização é a resposta do ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, à análise de economistas de que falta qualidade ao ensino
brasileiro e, sem isso, a economia do país não crescerá de forma sustentada.
A
formação dos professores tem que se voltar para a prática, diz: “Se formássemos
nossos médicos como formamos nossos professores, os pacientes morreriam”.
O
ministro critica o desempenho das universidades que preparam os docentes
—”principalmente no setor privado”— e diz que o MEC vai exigir contrapartidas
para repassar as verbas dos programas federais.
Mercadante
afirma que há simpatia à ideia de incluir o ensino profissionalizante no
currículo do ensino médio e propõe vincular o Pronatec, de formação técnica, ao
EJA, antigo supletivo.
Defende
a política de dar prêmios em dinheiro a escolas e professores que atingirem
metas e acha que entregar a administração escolar a Organizações Sociais
(entidades privadas sem fins lucrativos) pode dar bom resultado.
Não
apoia, no entanto, a política de “charter schools”, em que escolas privadas
recebem do Estado para prestar o serviço da educação gratuita.
Vários
economistas têm dito que o Brasil não vai crescer de forma sustentada sem
aumento de produtividade, e a qualidade da educação está na raiz desse aumento.
Por que o ensino não melhora?
O
Brasil tem que acelerar sua transição para uma economia do conhecimento.
Educação, ciência e tecnologia e inovação são a base dessa estratégia.
A
educação, principalmente, se estiver melhor articulada com o setor produtivo.
O
empresariado brasileiro tem uma certa dificuldade em ter cultura inovadora, o
que tem muito a ver com sermos um capitalismo tardio, em que o empresário acha
que inovar é comprar máquina pronta e acabada e não fazer melhor, mais barato,
mais eficiente que o que fazia antes. Este caminho é o que nos vai permitir
avançar. Conseguimos isso na agricultura.
É
uma área em que o Brasil tem vantagens competitivas.
Mas
não é só porque temos terra e água. Temos a Embrapa, temos tecnologia, uma
indústria de máquinas e equipamentos.
E
capital também.
Mas
é isso que gera o capital. Inovação, competitividade e eficiência vão atrair o
capital e modernizar o setor.
O
caminho tem que ser como o do brigadeiro Montenegro [Casimiro Montenegro
Filho], que criou o ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica], para formar uma
geração de engenheiros, para que pudéssemos ter uma indústria aeronáutica.
O
foco era a indústria, mas o alicerce era educação.
Ele
quis chegar, e chegou, à indústria aeronáutica e astronáutica, mas pela
educação.
Esse
deveria ser o caminho do Brasil. Precisamos mais dessa parceria com
universidades.
Por
que o Brasil não está conseguindo melhorar a qualidade do ensino?
Está
avançando. Educação é muito complexa: uma rede de 50 milhões de alunos, 2
milhões de professores, com o histórico que herdamos, é um processo.
Avançamos
muito no acesso às creches, na educação infantil, no ensino fundamental. A
jornada escolar está aumentando. Passamos de 4,7 anos para 8 anos em menos de
15 anos. Na universidade, nem falar. Eram 2,5 milhões nos anos 2000, agora são
7,5 milhões e meio.
Mas
o problema não é o acesso.
Eduardo
Anizelli – 9.out.2015/FolhapressO ministro da Educação, Aloizio Mercadante
Acesso
e permanência.
O
sr. não citou o ensino médio, em que o acesso, a permanência e a defasagem não
são boas.
Em
1991, havia 2,4 milhões de estudantes no ensino médio. Hoje são 7 milhões.
Mas
só 70% estão no ensino médio, grande parte fora da idade correta.
Mas
houve uma inclusão de quase 5 milhões de jovens, num período muito curto. O
problema é o que herdamos.
Mais
do que dobramos a rede, e foi a rede pública que suportou esse crescimento,
pois a privada praticamente não se alterou.
Houve
grande avanço em termos de acesso e permanência em todos os níveis, inclusive
no ensino médio, que acho que merece uma reflexão maior, porque é mais
complexo.
O
Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que leva em conta aprovação
escolar (chamada de fluxo) e médias de desempenho nas avaliações], ao incluir o
fluxo, sinaliza a importância de não deixar nenhuma criança para trás.
E
houve avanço também na aprendizagem, que é a coisa mais importante, o foco da
educação. A meta mais importante é a da qualidade, em todos os níveis.
No
caso do Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes,
que avalia estudantes na faixa dos 15 anos], a fotografia ainda é ruim, mas o
filme é muito bom.
O
fato de que o Brasil foi o que mais evoluiu no mundo, passou países da América
Latina dos quais sempre estivemos atrás, tendo feito uma inclusão dessa
magnitude, mostra que houve um avanço importante, mesmo em relação à qualidade.
Quando
pegamos nossa amostra, de 950 escolas e jovens de 15 anos, a média é
problemática. Onde está a dificuldade real? Não é na média. São os pobres. Onde
não avança, onde o Ideb não avançou no ritmo que se esperava é no último
quartil da renda, nos 25% mais pobres, que vêm de uma família não letrada, que
já na infância tem um vocabulário em média de um terço do das famílias
letradas.
É
essa criança, a criança da periferia das grandes cidades e das pequenas cidades
do interior, a criança que não está indo para a pré-escola. Elas não
desenvolvem as habilidades cognitivas e não cognitivas na idade adequada.
Já
identificamos a dificuldade da leitura, do aprendizado da escrita e dos
elementos básicos da matemática —22% das crianças não leem na idade adequada,
34% não escrevem e metade não aprende a matemática até os oito anos.
Fonte:
http://www.opotiguar.com.br/
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