O globo – RIO – A forte seca que castiga o
Nordeste deixou os reservatórios das hidrelétricas da região em nível crítico,
o menor de sua história. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS), o volume de água armazenado nas usinas chegou a 6,6% no último
dia 11, uma queda de 43,3% em relação há um mês, quando o nível estava a 12%.
Comparado com janeiro, quando estava em 18,3%, o volume despencou 62,8%.
Para se ter uma ideia, o menor nível
já registrado nos reservatórios da região até então era o de novembro de 2001,
ano do racionamento de energia, quando ficou, em média, em 7,84%. Para
especialistas, o risco é que, com a escassez de água nas hidrelétricas, as
usinas térmicas mais caras (como as movidas a diesel) sejam religadas, encarecendo
a conta de luz.
A medida pode ser necessária mesmo com
o alto volume de chuvas na Região Sul, onde os reservatórios estão acima de
97%. Isso porque o sistema interligado nacional tem um limite de capacidade de
transmissão de energia de uma região para outra do país. A Região Nordeste
responde por cerca de 12% da energia gerada no país.
João Carlos Mello, presidente da
consultoria Thymos, destaca que a situação é mais grave nas usinas do Rio São
Francisco. Cita a hidrelétrica de Sobradinho (que responde por 58,2% da energia
da região), cujo nível chegou a 2,88%, o menor da história.
— O motivo para um nível tão baixo
está relacionado a fatores climáticos como o El Niño. Com isso, você tem a
região Sul cheia de água, e o Sudeste com chuvas dentro da média — disse Mello.
GERAÇÃO EÓLICA
Rafael Kelman, da PSR Consultoria,
acredita que as térmicas mais caras terão de ser acionadas caso a situação da
região não melhore, principalmente a partir de dezembro, quando começa o
período das chuvas. Segundo Kelman, apesar do nível baixo, a usina de
Sobradinho é obrigada a liberar 900 metros cúbicos de água por segundo, e estão
chegando ao seu reservatório só 300 metros cúbicos por segundo. Ou seja, ele
está se esvaziando lentamente.
— A produção de energia eólica está
superior à hídrica no Nordeste. Se não chover, não tem outra saída senão ligar
mais térmicas de custo mais caro — disse Kelman.
No Nordeste, as hidrelétricas estão
produzindo 2.725 megawatts (MW) médios, enquanto os parques de energia eólica
estão gerando 3.275 MW. A geração de térmicas está em 3.400 MW.
Segundo o ONS, o nível dos
reservatórios de Centro-Oeste e Sudeste — que respondem por 70% da energia
gerada no país — está em 27,4%, acima dos 23,04% de novembro de 2001, mas
também no menor patamar desde março deste ano. Na Região Sul, o nível está em
97,2% da capacidade e acima dos 86,9% de 2001. No Norte, em 22,1%, acima dos
17,9% do ano do racionamento, mas o menor nível de 2015.
Assim, diz Mello, o governo pode ser
forçado a religar as térmicas mais caras (com custo variável unitário acima de
R$ 600/MWh) já em 2016. Em setembro, essas unidades foram desligadas, o que,
segundo estimativas do governo, permitiu uma economia de R$ 5,5 bilhões neste
ano e a redução do valor da bandeira vermelha (tarifa extra cobrada na conta de
luz dos brasileiros) de R$ 5,50 para R$ 4,50 a cada 100 kW consumidos.
— O que está ajudando hoje é que a
atividade econômica do país está fraca. É isso que está segurando o risco de
racionamento — destacou.
Já o Ministério de Minas e Energia
(MME) disse, em nota, que “os órgãos e entidades que compõem o Comitê de
Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) acompanham continuamente as condições de
suprimento energético no país”. O MME lembrou que o “CMSE avaliou, em sua mais
recente reunião, que o risco de qualquer déficit de energia no Nordeste é zero
neste ano, da mesma forma que nas demais regiões”. Por isso, “neste momento não
há evidências de que seja necessário religar essas usinas térmicas”, diz a
nota. O MME destacou ainda que foram adicionados, ao longo do ano, 4.436 MW ao
sistema, com novos projetos de geração.
SITUAÇÃO CONTORNÁVEL
Nivalde de Castro, coordenador do
Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) do Instituto de Economia da UFRJ,
destacou que, apesar do nível crítico dos reservatórios do Nordeste, é preciso
aguardar o início do período das chuvas:
— Esses níveis tão baixos mostram que
vivemos um problema muito grave de abastecimento de água. Mas, em termos de
energia, a situação é contornável pelo fato de o sistema elétrico ser
interligado. Além disso, temos as eólicas que estão produzindo energia na
região.
Fonte: http://www.opotiguar.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário