Cela de Odebrecht em Curitiba vira academia e escritório
Marcelo
Odebrecht transformou o exíguo espaço onde passa a maior parte dos dias
enclausurado em escritório e academia. Longe das raias de sua piscina
particular, faz exercícios físicos e anotações. O terno deu lugar ao agasalho
de academia. Faz "step" (subir e descer degraus) de improviso na
estrutura de concreto da cela, abdominais e flexões. Uma rotina que começa cedo
e segue tarde adentro. O terno, ele só voltou a usar quando foi levado a depor
CPI da Petrobras. Na ocasião, orientado por seu advogado, negou "ter o que
dedurar" para rechaçar a hipótese de aderir à delação premiada.
Odebrecht
não para nem demonstra abatimento, e anota: são orientações aos advogados,
análises das peças dos processos da Lava Jato, que ele lê e relê atentamente,
indicações de argumentos, pontos a serem questionados em juízo, táticas de
publicidade e relação com a imprensa. Acostumado a dar ordens, mantém dentro do
cárcere a figura do líder. Cinco executivos da Odebrecht, presos também no dia
19 de junho, mantém a reverência hierarquia, mesmo afastados dos cargos e longe
da empresa. "Parece uma relação de seita", diz uma autoridade da
equipe da Lava Jato, em reservado.
Os 100
dias de cárcere de Odebrecht são divididos em duas etapas. Nos 26 primeiros
dias esteve preso na Custódia da Superintendência da Polícia Federal, em
Curitiba - QG das investigações, sob a guarda direta daqueles que o prenderam.
O empresário dormiu na cama superior de uma beliche, em uma cela sem janela,
onde a luz que entra é a do vão das grades da porta. Com ele, dois outros
executivos.
Acostumado
a eventos sociais, jantares sofisticados, o dono da Odebrecht não reclamou da
comida, em geral arroz, feijão, macarrão e uma carne. Seu primeiro pedido
chegou oficialmente, via advogado, no mesmo dia que foi transferido para
Curitiba: o direito ao consumo de barras de cereal de três em três horas, por
causa de uma hipoglicemia. Foi atendido. Ao ser preso, Marcelo Odebrecht avisou
aos familiares que não queria receber visitas. A ordem deveria valer também
para a mulher dele, Isabela. Mas é ela, junto com a irmã do executivo, Mônica
Odebrecht quem mais o visitam na carceragem, sempre às sextas-feiras.
Odebrecht
pediu pessoalmente aos agentes da Custódia da PF iluminação dentro da cela (o
que é proibido) e depois a liberação para comprar duas TVs que seriam
instaladas estrategicamente nos dois corredores que dão acesso aos dois blocos
de três celas. Ambos negados.
Banho quente
No dia
25 de julho, Odebrecht e os outros cinco executivos da empreiteira foram
transferidos para o Complexo Médico-Penal, em Pinhais, região metropolitana de
Curitiba, cidade de inverno intenso e rigoroso.
A
unidade de prisão estadual, apesar de abrigar detentos condenados, tem
acomodações mais espaçosas e um de seus principais problemas, o banho gelado,
foi resolvido. Antes de ser liberado para cumprir pena em regime domiciliar, no
inicio do ano, um dos donos da construtora Mendes Júnior conseguiu autorização
para instalar um sistema de aquecimento para os banhos na unidade. As
informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
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