Cálculo de perda da estatal enfurece Dilma
Rousseff
A presidente Dilma ficou, segundo
assessores, "enfurecida" com o cálculo feito por consultorias
independentes indicando a necessidade de dar uma baixa de R$ 88,6 bilhões em
ativos da estatal.
Na avaliação
do Palácio do Planalto, o número foi calculado de forma "amadora" e
colocou na mesma cesta ativos bons com outros contaminados pela corrupção
investigada na Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
O governo,
aliás, preferia que o valor não fosse divulgado pelo conselho de administração
da estatal, o que acabou acontecendo por pressão de conselheiros na reunião da
terça-feira (27).
Internamente,
o governo classificou o cálculo como "rudimentar", feito de maneira
"amadora", porque nem sequer usou projeções importantes da empresa
para definição dos valores.
Para o
governo, a divulgação acabou criando a imagem de que os ativos da estatal
precisam ser baixados não só por causa de corrupção mas também por
incompetência administrativa.
A presidente Dilma chegou a telefonar
para Graça, em um diálogo "duríssimo", segundo seus assessores, em
que cobrou explicações sobre os critérios usados.
A estimativa
de R$ 88,6 bilhões só chegou ao conhecimento do governo no dia da reunião do
conselho, quando também foi a primeira vez em que os conselheiros receberam os
dados.
Os
conselheiros consideraram que seria uma "temeridade" dar a baixa do
valor total contido no relatório elaborado por consultorias independentes
porque levaria a um corte em ativos bons no balanço da estatal.
O Planalto não
queria a divulgação dos R$ 88,6 bilhões, mas o conselho considerou que o número
acabaria vazando e a situação poderia ficar pior, levantando a suspeita de que
o órgão estaria escondendo dados.
As ações da
empresa recuaram 11,2% na quarta-feira, após a divulgação do balanço do
terceiro trimestre de 2014 com dois meses de atraso e sem descontar as perdas
causadas por corrupção.
Nesta
quinta-feira (29), houve queda de 3,1% nos papéis da estatal.
CONSELHO
PARALISADO
Reflexo da
reunião, conselheiros da Petrobras ouvidos reservadamente pelaFolha dizem que o conselho está perdendo as
condições para tomar decisões e que Dilma deveria alterar sua composição o mais
rápido possível.
Segundo um
conselheiro, a reunião mostrou que o conselho está "praticamente
paralisado", acrescentando que "ninguém tem coragem de tomar uma
decisãozinha qualquer que possa representar risco jurídico pela frente".
Em sua
avaliação, a direção atual da presidente Graça Foster também está desgastada,
totalmente refém do processo da Lava Jato.
PLANO
No Palácio do
Planalto, a avaliação é que a situação do balanço acabou por desmontar a
estratégia de dar "um mínimo de governança" para a empresa.
O plano
passava pela troca do conselho de administração, que traria nomes fortes, da
confiança do mercado (nomes como Henrique Meirelles foram cogitados), para
blindar a atual gestão e garantir a continuidade de Graça no cargo.
Diante de uma
gestão nitidamente mais transparente e rígida, a empresa conseguiria estancar a
crise, dando uma sobrevida para a permanência da presidente da estatal, que, em
um ano ou pouco mais, poderia ser substituída sem causar tanto ruído.
O novo
episódio, no entanto, reforçou sua fragilidade diante da estatal e fez apressar
o debate interno do governo por novos nomes para sua substituição, ainda que
não haja previsões para a troca.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/
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