Números
do Pnud comprovam diferença de desenvolvimento entre Sul, Norte e Nordeste
Brasília - A diferença de
desenvolvimento entre os estados do Centro-Sul, Norte e Nordeste do Brasil
ficou evidente com a divulgação do Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil 2013,
lançado esta semana pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud). O ranking estadual
pode ser dividido em duas partes. As unidades federativas localizadas na metade
de baixo do mapa ocupam as primeiras 11 posições. O primeiro representante do
Norte do país é o Amapá, em 12º lugar. O Rio Grande do Norte, melhor estado
nordestino, só aparece na 16ª posição.
O estado de Alagoas é o
último colocado. O Maranhão aparece em 26º lugar e o Pará, em 25º. Apenas a
capital Maceió tem o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)
considerado alto entre as cidades do estado e, mesmo assim, aparece atrás de
1,2 mil municípios na lista. Os índices de renda dos 5.565 municípios avaliados
mostram 14 cidades do Maranhão entre as 20 últimas colocadas. O IDHM é o
resultado da análise de mais de 180 indicadores socioeconômicos dos censos do
IBGE de 1991, 2000 e 2010.
O secretário de
Desenvolvimento Social e Agricultura Familiar do Maranhão, Fernando Fialho,
reconhece os desafios que o estado precisa enfrentar para melhorar os índices,
mas prevê melhorias a partir de programas já em execução. “Temos muitos
desafios pela frente. O Maranhão tem uma ocupação muito esparsa, e isso
dificulta o acesso às políticas públicas. Isso está incluído no planejamento do
governo, inclusive fazer a interligação por asfalto de todos os municípios”,
explicou. Ele destacou que o estado tem trabalhado em projetos de
interiorização da indústria, para levar desenvolvimento a todos os municípios
de maneira igual.
Na análise do secretário, o
Maranhão e os demais estados do Norte e Nordeste sofreram com uma espécie de
“exclusão”, que priorizou o desenvolvimento das regiões Sul e Sudeste e
promoveu o atraso mostrado no estudo. “O desenvolvimento econômico no Brasil
começou excludente. O Nordeste sempre teve um coeficiente muito baixo de
investimentos públicos transformadores. Mas, ao longo dos últimos anos, isso
foi melhorando”. O secretário de Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de
Alagoas, Luiz Otávio Gomes, concorda com Fialho. Para ele, o déficit é
histórico.
“Isso ocorre ao longo do
tempo. No Sul e no Sudeste há mais desenvolvimento porque as políticas do país
são mais concentradas nessas regiões. Onde estão as indústrias de grande porte
e os maiores investimentos do nosso país? No Sul e sudeste”, destaca. Segundo
ele, há a necessidade de uma política de desenvolvimento regional para o
Nordeste brasileiro. Mas, apesar de Alagoas ocupar a última colocação no ranking,
ele ressalta a melhora do índice, de baixo para médio. Segundo ele, mudanças
devem ser vistas no estado nos próximos anos, com investimentos em saúde,
educação, segurança e inclusão produtiva.
Para o professor de ciência
política da Universidade Federal de Alagoas Ranulfo Paranhos, o quadro
apresentado no estudo se deve a problemas históricos de gestão. “O indivíduo
responsável pela política pública não está tomando a decisão correta. E não são
só os governadores. Existem as assembleias legislativas e prefeitos, pessoas
que devem propor soluções para os problemas de economia, educação, emprego e
renda”. Segundo ele, esses problemas se relacionam, uma vez que não seria
possível estimular o mercado de trabalho e propor melhores salário em
localidades onde a escolaridade é muito baixa e não há qualificação
profissional.
Paranhos ainda destaca
diferenças entre as formas de fazer política no Sul e no Norte do país. Segundo
ele, as características influenciam diretamente os números apresentados pelo
Pnud. “Em geral, estados do Norte e Nordeste têm uma elite política que não
circula, não abre espaço para inovação. Essas elites, normalmente familiares,
se perpetuam muito mais que as do Sul e Sudeste e não têm uma oposição forte. E
se essas elites não apresentaram solução para os problemas de suas regiões nos
últimos cinco, dez anos; não vão fazê-lo nos próximos 20 anos.”
O doutor em história social e
professor da Universidade Federal do Pará (Ufpa) Agenor Sarraf também vê
prejuízos na cultura política da região. “Vai chegar ao poder, muitas vezes,
uma pessoa que já está comprometida com seu grupo, com uma certa elite. E aí o
governo não é para todos, é para poucos”. Ele critica a falta de diálogo dos
gestores com as características específicas de determinadas regiões do país.
“No município de Melgaço, por
exemplo, 78% dos 24 mil habitantes estão em um grande espaço rural, não moram
[de forma] concentrada. Se não houver uma oportunidade de melhoria de vida,
essas famílias não sairão dessas localidades. Esse modelo de política pública
nacional é europeu, urbanocêntrico e não leva em conta a diversidade, a
especificidade cultural”, acrescentou.
Fonte: Agência Brasil
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