LUIZ DA CÂMARA CASCUDO
Filho único de Francisco Justino de
Oliveira Cascudo e Anna Maria da Câmara Cascudo, ele comerciante e coronel da
Guarda Nacional, ela dos afazeres domésticos, nasceu Luís da Câmara Cascudo em
Natal, a 30 de dezembro de 1898, onde viveu 88 anos até seu coração parar na
tarde do dia de 30 de julho de 1986.
Na
água do primeiro banho a mãe despejou um cálice de Vinho do Porto para o filho
ter saúde e o pai a temperou com um Patacão do Império para merecer fortuna. O
padre João Maria, um santo da cidade, batizou-lhe no bom Jesus das Dores, e a
poetisa Auta de Souza, amiga de sua mãe, embalou seu choro forte de
menino-homem.
Teve
uma infância guardada entre cuidados exagerados, com ama de companhia,
professora particular e proibido do encanto das ruas. No verão, vivia os dias
na beira do mar, entre barcos e pescadores, e no inverno passava no sertão
ouvindo vaqueiros e cantadores. Entre espumas e espinhos sedimentou sua cultura
descobridora de homem brasileiro.
Desejou
ser um nobre médico de província e chegou a cursar os primeiros anos na Bahia e
no Rio de Janeiro. Mas terminou cumprindo o destino de ser Bacharel em Direito
e foi estudar na velha faculdade de Direito do Recife, onde ainda ouviu o eco
dos discursos de Joaquim Nabuco e Tobias Monteiro e dos versos de Castro Alves.
Sonhou
ser jornalista e foi. Seu pai nessa época ainda era um homem rico e instalou o
jornal A Imprensa para seu filho. Nas suas páginas, o
estudante que lia até a madrugada passou a exercitar o gosto de escrever, mantendo
uma coluna que chamou de Bric-a-Brac e onde exercitava o olho
observando a paisagem humana e cultural da cidade e sua gente.
Seu
primeiro livro, Alma Patrícia,
sai em 1921. É a reunião de pequenos estudos sobre poetas e prosadores na Natal
de seu tempo. Depois vem Joio,
encerrando a fase de crítica. Num breve exercício de ficção sob influência de
Viriato Correia, escreve Histórias
que o tempo leva, recriando narrativas literárias sobre as ruínas de velhos
fatos históricos.
O
professor de História resiste nas biografias de figuras como Lopez do Paraguai,
o Conde d'Eu e o Marquês de Olinda, mas não demora a entrar em sintonia com os
modernistas do Recife e de São Paulo, o que lhe abre os olhos e os ouvidos para
o homem comum nas suas crenças e costumes, seus cantos e suas danças, suas
músicas e suas técnicas, sua vida e sua morte.
Em
1939 lança Vaqueiros e
Cantadores e seu nome se
coloca, a partir de então, como uma legenda no estudo do saber do povo. Funda a
Sociedade Brasileira de Folclore. Propõe uma teoria para a Cultura popular.
Ergue com erudição um conceito brasileiro para a Literatura Oral. Viaja para
beber nas fontes africanas o vinho arcaico de nossas raízes.
Autor
de clássicos da cultura brasileira como o Dicionário
do Folclore, Civilização e
cultura, História da
alimentação no Brasil, ensaísta da Jangada e da Rede
de dormir; antropólogo dasSuperstições; etnólogo dos Costumes; sociólogo do Açúcar; tradutor de Montaigne e
Koster; historiador dos gestos - a obra de Cascudo é continente e ilha.
Com
mais de uma centena de títulos entre livros, traduções, opúsculos e artigos
publicados no Brasil e em vários países, viveu a vida vendo e ouvindo, lendo e
escrevendo, sem nunca pensar em deixar sua terra. Por isso não aceitou o fardo
da Academia Brasileira de Letras nem o convite de Juscelino para reitor da
Universidade de Brasília.
Viveu
e morreu na sua aldeia. Genial e humilde. Pobre e feliz.
Fonte: http://www.memoriaviva.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário