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Delfim Netto depõe na
Comissão Municipal da Verdade de São Paulo e diz que não sabia de tortura
São Paulo - O ex-ministro
Antônio Delfim Netto depôs hoje (25) na Comissão Municipal da Verdade Vladimir
Herzog e negou praticamente todos os questionamentos. O economista, que foi
ministro da Fazenda entre 1967 e 1974, disse desconhecer que houvesse uma ditadura
no país e que pessoas eram presas e torturadas, além de negar que soubesse da
existência de empresários que faziam doações para financiar a Operação
Bandeirante (Oban).
A Oban, financiada por
empresários paulistas, foi uma organização acusada de tortura e ações ilegais,
que depois daria lugar ao Destacamento de Operações de Informações - Centro de
Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), órgão de repressão ligado ao 2º
Exército, sediado em São Paulo.
O ex-ministro ressaltou ainda
que não se arrepende de ter assinado o Ato Institucional 5 (AI-5), que
extinguiu direitos civis e levou ao período de maior repressão no país, em
1968. "Se as condições fossem as mesmas e o futuro não fosse opaco, eu
repetiria. Eu não só assinei o Ato Institucional 5 como assinei a Constituição
de 1988". O AI-5 deu plenos poderes ao presidente, marechal Artur da Costa
e Silva, além de suspender o habeas corpus em casos de crimes políticos, entre
outras medidas.
Quando questionado sobre a
morte do jornalista Vladimir Herzog, disse que estava em Paris na ocasião e que
nem soube de detalhes. Também negou saber de uma festa feita nas dependências
do DOI-Codi, em São Paulo, para comemorar a morte de um preso político,
relatada pelo publicitário Emílio Ivo Ulrich, que estava preso e assistiu a
tudo, e a quem foi determinada a limpeza do local após a comemoração. “Eu não
soube dessa festa. É uma coisa bárbara, um absurdo que nem acredito que tenha
acontecido”, disse.
Ao ser criticado e
questionado pelos vereadores da Comissão da Verdade, Delfim Netto disse que deu
seu depoimento e que todos poderiam julgar da forma como bem quisessem. “É
aquilo que aconteceu. Vossa excelência quer criar uma verdade. Havia a mais
absoluta separação. No meu gabinete nunca entrou um oficial fardado. Não existia
nenhum vínculo entre as administrações. E tem as atas do conselho. Hoje, com a
lei de transparência [Lei de Acesso à Informação], é só requisitar as atas do
conselho, e tudo estará lá".
O presidente da comissão, o
ex-preso político e vereador Gilberto Natalini (PV), avaliou que Delfim Netto
perdeu uma grande chance de falar a verdade e se redimir com relação à história
do Brasil. Para Natalini, o ex-ministro da Fazenda omitiu dados e fatos que já
foram comprovados pelas investigações da comissão. “Eu não acredito no
depoimento dele. Não é possível, diante de tantos fatos e nomes, ele dizer que
não conhecia, não sabia. Não saber que tinha repressão no Brasil, um ministro
da Fazenda do governo Médici. Nem uma criança de cinco anos consegue
acreditar”.
A Comissão da Verdade
Vladimir Herzog, da Câmara Municipal de São Paulo, foi criada em abril de 2012
para apurar as violações de direitos humanos envolvendo casos de tortura,
mortes, desaparecimentos e ocultação de cadáveres entre 1946 e 1988 na cidade.
Fonte: Agência Brasil
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