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Ipea: jovem negro
corre 3,7 vezes mais risco de assassinato do que branco
Brasília – Um estudo do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre racismo no Brasil, divulgado hoje
(17), revela que a possibilidade de um adolescente negro ser vítima de
homicídio é 3,7 vezes maior do que a de um branco. Segundo o estudo, existe
racismo institucional no país, expresso principalmente nas ações da polícia,
mas que reflete “o desvio comportamental presente em diversos outros grupos,
inclusive aqueles de origem dos seus membros”.
Intitulado Segurança Pública e Racismo
Institucional, o estudo faz parte do Boletim de Análise Político-Institucional do Ipea e foi elaborado por
pesquisadores da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado das Instituições e
da Democracia (Diest). “Ser negro corresponde a [fazer parte de] uma população
de risco: a cada três assassinatos, dois são de negros”, afirmam os
pesquisadores Almir Oliveira Júnior e Verônica Couto de Araújo Lima, autores do
estudo.
Na apresentação do trabalho, em
entrevista coletiva na sede do Ipea em Brasília, o diretor da Diest, Daniel
Cerqueira, que, do Rio, participou do evento por meio de videoconferência,
apresentou outros dados que ratificam as conclusões da pesquisa sobre o racismo
institucional. Segundo ele, mais de 60 mil pessoas são assassinadas a cada ano
no Brasil, e “há um forte viés de cor/raça nessas mortes”, pois “o negro é
discriminado duas vezes: pela condição social e pela cor da pele”. Por isso,
questionou Cerqueira, “como falar em preservação dos direitos fundamentais e
democracia” diante desta situação?
Para comprovar as afirmações, Cerqueira
apresentou estatística demonstrando que as maiores vítimas de homicídios no
Brasil são homens jovens e negros, “numa proporção 135% maior do que os não
negros: enquanto a taxa de homicídios de negros é de 36,5 por 100 mil
habitantes. No caso de brancos, a relação é de 15,5 por 100 mil habitantes”.
A cor negra ou parda faz aumentar em
cerca de 8 pontos percentuais a probabilidade de um indivíduo ser vítima de
homicídio, indicam os dados apresentados pelo diretor do Diest. Isso tem como
consequência, segundo Daniel Cerqueira, uma perda de expectativa de vida devido
à violência letal 114% maior para negros, em relação aos homicídios: “Enquanto
o homem negro perde 1,73 ano de expectativa de vida (20 meses e meio) ao
nascer, a perda do branco é de 0,71 ano, o que equivale a oito meses e meio.”
Para o pesquisador Almir de Oliveira
Júnior, como dever constitucional, o Estado deveria fornecer aos cidadãos,
independentemente de sexo, idade, classe social ou raça, uma ampla estrutura de
proteção contra a possibilidade de virem a se tornar vítimas de violência.
“Contudo, a segurança pública é uma das esferas da ação estatal em que a
seletividade racial se torna mais patente”, disse Oliveira Júnior.
De acordo com as estatísticas sobre a
violência em que o estudo se baseou, esse é um dos fatores que explicam por
que, a cada ano, “uma maior proporção de jovens negros, cada vez mais jovens, é
assassinada”, acrescentou o pesquisador. Segundo ele, enquanto nos anos 80 do
século passado, a média de idade das vítimas era 26 anos, hoje não passa de 20.
Fonte: Agência Brasil
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